quarta-feira, 5 de janeiro de 2011

Motel público para juventude! e Chega de pia de banheiro! Por Ramon Szermeta




Você que é leitor(a) dessa revista, com certeza não deve se achar conservador(a). Você provavelmente se considera de esquerda, votou no Lula nas últimas eleições, deve ser jovem, talvez se considere socialista, em alguns casos até libertário(a), etc, etc… Então pense na seguinte situação: seu pai se separa da sua mãe e lhe dá a notícia que, depois de

muitos anos casado, descobriu que é gay e agora vai viver com outro homem debaixo do mesmo teto, pois é assim que ele é feliz. Você com certeza vai achar normal. Contará para todos seu amigos e tratará o novo amor do seu “velho” normalmente. Não é caro leitor? Você que acha que toda forma de amor vale a pena, que é contra o preconceito e a discriminação vai encarar o fato na boa, não é? Que bom! Pois o exercício acima foi para tocarmos em um assunto pouco habitual, não só nas discussões que nós, da Juventude do PT, fazemos, como num tema que a sociedade pouco explora, ao menos de forma séria, que é a sexualidade da juventude. Nos despirmos de preconceitos e estigmas é o primeiro passo para começarmos a fazer um bom debate.

Não precisamos nos rechear de dados aqui para saber que o jovem inicia sua vida sexual cada vez mais cedo, que o índice de jovens contaminados pelo HIV no mundo é assustador e o drama da gravidez precoce indesejada é uma realidade constante. Antes

de propormos a famosa solução da abstinência sexual, o que tem se mostrado falho, devemos reconhecer o jovem como um sujeito de suas ações, capaz de tomar decisões e encarar suas escolhas. A sociedade deve estar preparada e aceitar o fato dos jovens iniciarem sua vida sexual mais cedo do que deseja sua família, sua escola ou o Estado. Ou seja, deve dar condições para tomar sua decisão de forma consciente.

Antes que se fale da banalização do sexo nos meios de comunicação, (o que não está banalizado?), da pornografia da novela das oito ou do apelo sexual de boa parte das propagandas, devemos ter clareza que ainda não há uma política séria de educação sexual nas escolas. Por incrível que pareça, muitos jovens não tem informações básicas sobre os métodos preventivos e a maioria pouco conhece seu corpo (principalmente as mulheres). A omissão e ineficácia do Estado nessa questão ainda são espantosas e por isso devemos intensificar debates sobre esse tema nos espaços mais variados, propondo e cobrando dos governos ações nesse campo.

Devemos considerar a educação sexual como um elemento de formação do cidadão. Afinal, sua vida sexual mexe com seu lado psicológico, emocional e com sua auto-estima. A preocupação com os jovens que ainda estão iniciando várias experiências na vida deve ser redobrada e devemos formular propostas para o poder público que contribuam para que o jovem tenha uma vida sexual saudável. O que com certeza implica em uma política que envolva áreas da saúde, educação, comunicação e principalmente envolva o jovem na construção dessa política.

OK, talvez você concorde com quase tudo. Mas já parou para pensar em que condições a maioria dos jovens fazem sexo hoje? Talvez escondido em casa enquanto os pais trabalham? E os que têm pais desempregados? No banheiro de uma festa? Atrás do muro da escola? Terrenos baldios, construções abandonadas? Será que essas situações são as mais adequadas para pura e simplesmente desfrutar dos prazeres que se pretende? E para, por exemplo, usar camisinha? Ou então imaginem uma abordagem da nossa tão refinada polícia flagrando dois jovens nessa situação? Pois, por mais que não pareça essa é uma aflição que atinge muito jovens e por ser considerada um problema individual não existem propostas que enfrentem esse problema.

Talvez porque quem mais sinta isso na pele são jovens das camadas mais pobres da população. Sem falar, obviamente, no conservadorismo, na hipocrisia ou no falso moralismo que ainda predominam na nossa sociedade.

Dada essa situação, acredito que devemos começar seriamente a desenvolver uma idéia que pintou em alguns debates, que diz respeito à construção de “Motéis públicos para a Juventude”.

Claro que todo governo terá sempre outras prioridades, muitos não levarão a proposta a sério, a Liga das Senhoras Católicas vai dar chilique, e o seu pai (aquele que eu pedi pra você pensar no início) vai achar um absurdo. Mas cabe a nós, da Juventude do PT, buscar soluções para os mais variados anseios e aflições da juventude brasileira. Não devemos temer propostas polêmicas que busquem encarar o problema de frente. Está lançado o desafio e espero que o enfrentemos, com muito prazer!!!

Ramon Szermeta, Secretário Estadual de Juventude do PT/SP (2001-08)

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