terça-feira, 20 de julho de 2010

Uma velha história

Mais um texto de uma querida companheira, exemplo de militância feminista no movimento estudantil. A melhor diretora de mulheres que a UNE já teve em toda sua história!



Uma velha história

Alessandra Terribili

Nos anos 80, a luta contra a violência contribuiu para fortalecer e consolidar o feminismo no Brasil. As mortes de Ângela Diniz (1979) e de Eliane de Gramond (1981) por seus ex-maridos chocaram o Brasil. Eram mulheres que puseram fim a seus casamentos, e, além da brutalidade dos assassinatos, os dois casos envolviam pessoas conhecidas da opinião pública, o que lhes conferiu ainda mais “notoriedade”. "Quem ama não mata" era a resposta dada pelas feministas àqueles que sugeriam que os homens matavam “por amor”.

Mas não tardou a tentativa de transformar as vítimas em rés, “compreendendo” o criminoso, que teria “perdido a cabeça” por ação delas. Organizadas, as mulheres repudiaram o machismo que levou Ângela e Eliane à morte, e que, depois, buscou incessantemente justificar essas mortes com base na conduta das vítimas. A tal defesa da honra era reivindicada. O movimento de mulheres não se calou e colocou em questão as insígnias do "em briga de marido e mulher, ninguém mete a colher" ou a ideia de que "um tapinha não doi".

O tempo passou e, em 2000, a própria mídia foi pano de fundo para um crime análogo. A jornalista Sandra Gomide foi morta pelo ex-namorado, Pimenta Neves, então diretor de redação de O Estado de São Paulo. O assassinato aconteceu precisamente porque o namoro acabou. Por conta disso, ela sofreu agressões físicas e verbais, perdeu seu emprego, foi perseguida. Neves chegou a ameaçar de retaliações qualquer pessoa que oferecesse trabalho a Sandra. Pela mídia, a moça chegou a ser tratada como "aquela que namorou com o chefe para subir na vida".

Em 2008, outro episódio de violência contra mulher gerou comoção nacional. Eloá Pimentel, com seus 15 anos, praticamente foi assassinada ao vivo e em rede nacional pelo ex-namorado, que a sequestrou e a manteve em cativeiro por cinco dias. A agonia da menina foi acompanhada em tempo real, e ao se tornar a personagem central de uma história dramática, ela, como as já citadas, teve sua vida exposta e sua conduta julgada, apresentada como principal fundamento do comportamento agressivo de seu assassino.

Há poucos meses, a vítima foi Maria Islaine, cabelereira, morta pelo ex-marido diante de câmeras que ela mesma mandou instalar no salão onde trabalhava, julgando que essa atitude a protegeria da violência anunciada. Dias atrás, tivemos a infelicidade de testemunhar o advogado do assassino defendendo seu cliente com o bom e velho “ela provocou”.

Eliza e Mércia

Agora, a mídia tem apresentado as histórias de Eliza Samudio e de Mércia Nakashima como se fossem romances policiais. Convida-nos a acompanhar cada momento, provoca comoção, sugere respostas, vasculha a vida das mulheres mortas e as expõe a julgamento público, sem direito de defesa. A tragédia é exaustivamente explorada, e no final, a lição que fica é: elas procuraram.

Mércia morreu, aparentemente, porque rejeitou seu ex-namorado. Cometeu o desaconselhável equívoco de querer sua vida para si mesma, de não aceitar perseguições, sanções ou intimidações. Entretanto, tem-se falado em traição e ciúmes. E lá vem, de novo, a conversa fiada da defesa da honra. Mas é Mércia quem não está mais aqui para defender a sua.

De Eliza, disse-se de tudo: maria-chuteira, garota de programa, abusada, oportunista. Acontece que não importa. Não importa se ela foi garota de programa, se era advogada, modelo, atriz, estudante ou deputada. Ela está morta. E morreu, aparentemente, porque o pai de seu filho não queria arcar com as obrigações legais e éticas de tê-la engravidado.

Ela nunca vai poder se defender das acusações póstumas. Não vai ao “Superpop” defender sua versão ou sua história. Não vai estampar a capa de “Contigo”, acompanhada de frases de impacto entre aspas. Ela está morta, e o que ela fez ou deixou de fazer, pouco importa agora. E seria prudente, inclusive, evitar julgá-la pelo crime que a matou.

Mais uma vez, a história se repete. Mulheres são mortas por homens com quem se envolveram. Assassinos frios, esses homens tiraram a vida de mulheres confiando na impunidade, porque há quem os “compreenda”. A morte de Eliza e de Mércia parece ter sido calculada e premeditada. E mesmo assim, segue ecoando a ideia de que a culpa é delas, que elas procuraram, que elas provocaram.

O espetáculo da morte

Infelizmente, histórias como as de Eliza, Mércia, Eloá, Maria, Sandra, Ângela e Eliane são muito mais comuns do que se imagina. E antes de culminar em assassinato, outras formas de violência foram praticadas contra cada uma delas, como acontece com muitas – as que morrem e as que se salvam.

A espetacularização promovida pela mídia, no entanto, faz parecer que são histórias ímpares e distantes do cotidiano da vida real. Como se o perigo não morasse ao lado, como se muitas não dormissem com o inimigo. Na sua família, na sua vizinhança, no seu local de trabalho, no seu círculo de amigos, certamente há casos de violência contra mulheres, e certamente você ouviu falar de pelo menos um deles. Em recente levantamento, a ONG Centro pelo Direito à Moradia contra Despejos apontou que uma mulher é agredida a cada 15 segundos no Brasil, e uma em cada quatro afirma já ter sofrido violência. Há que se considerar também que existem as que não afirmam – por medo ou vergonha.

Essas mulheres não são co-autoras de seu assassinato. É recorrente a trama montada para torná-las rés, para justificar suas mortes nas ações delas mesmas, para tolerar a violência. “Que sirvam de exemplo”, parece que dizem.

Num mundo em que a desigualdade entre mulheres e homens se expressa visivelmente desde na divisão das tarefas domésticas até no controle dos corpos delas pela Igreja ou pelo Estado, passando pela realidade de violência e pela discriminação no mercado de trabalho ou por serem tratadas como objetos descartáveis na rua e na TV; ninguém pode dizer que não sabia; nem fazer piadinhas que celebram os casos. São mulheres de carne e osso, não são personagens de novela.

São cúmplices dessa violência todos os que a toleram ou que buscam subterfúgios no comportamento da vítima para declará-la culpada por sua própria morte. São cúmplices silenciosos, igualmente, aqueles que fingem que machismo, discriminação e opressão são peças de ficção.


Cordel : O CASO 'ELIZA SAMUDIO' E O MACHISMO TOTAL



O caso Eliza Samudio
Que tem chocado o Brasil
Emerge como prelúdio
De um grande desafio:
Exortar nossa Justiça
Pra deixar de ser omissa
Ante o machismo tão vil!

Trata-se de um momento
De grande reflexão
Pois não basta só lamento
Ou alguma oração
É hora de provocar
Propondo um outro olhar
Sobre processo e ação

Saiu na televisão
Rádio, internet e jornal
Notícia em primeira mão
Toda manchete é igual:
Ex-amante de goleiro
(Aquele cheio de dinheiro!)
Sumiu sem deixar sinal

Muita especulação
- discurso de autoridade-
Uns dizem que é armação
Outros dizem que é verdade
Polícia e delegacia
Justiça e promotoria:
Fogueira de vaidades!

Mei-mundo de advogados
Investigação global
Cada um no seu quadrado
Falando em todo canal
Subjacente a tudo
Um peixe muito graúdo:
Androcentrismo total!

A mídia fala em Bruno
Eliza e gravidez
Flamengo, orgia e fumo
-esta é a bola da vez!-
Tem muito 'especialista'
Em busca de alguma pista
Pra ser o herói do mês

E a história se repetindo
Mudando apenas o nome
Outra mulher sucumbindo
Sob ameaça dum homem
Uma vida abreviada
Cuja morte anunciada
A estatística consome

Assim é a violência
Lançada sobre a mulher
Ela pede providência
E cara faz o que quer
Mas a Justiça, que é lerda,
Machista, 'fazendo merda'
Vem com papo de mané

E oito meses depois
Da 'denúncia' inicial
Que é o feijão com arroz
Do distinto tribunal
Nadica de nada existe
Mas autoridade insiste
Que isto, sim, é normal:

“A culpa é do Instituto
Que não mandou o exame”
- isto soa como insulto
e daqueles mais infame-
Não era caso de urgência?
-tenha santa paciência!-
Para que serve um ditame?

A moça buscou amparo
Na Justiça do país
Agiu correto, é claro
E esperou do juiz
O tal reconhecimento
Sobre o pai do seu rebento
Tendo a vida por um triz

Também fez comunicado
Ao campo policial
Dizendo que o namorado
Praticou crimes e tal
Buscou as vias legais
Enfrentou feras reais
Terá sido este o seu mal?

Mesmo com a delegacia
Dita especializada
E com toda a apologia
De uma Lei avançada
Faltou ter a ruptura
Com aquela velha cultura
De que a mulher é culpada

E o cumprimento legal
No caso, muito importante
Seria mais um arsenal
Para enfrentar o gigante
Mudar a mentalidade
De nossas autoridades
É fator preponderante

E para que isto ocorra
Entre outra alternativa
Antes que mais uma morra
E o caso fique à deriva
É preciso compreender

Que Justiça é pra fazer
Enquanto a mulher tá viva!
Sei que nada justifica
Que haja tanta demora
E enquanto o caso complica
A vítima 'já foi embora'
Sem medida protetiva!
Sequer prisão preventiva!
Quanto inoperância aflora!

Se o exame era necessário
À elucidação do crime
O Estado-perdulário
Neste campo fez regime
Ficando no empurra empurra
No velho: ''mulher é burra,
e joga no outro time”

Todo crime tem problemas
De toda diversidade
Assim como há esquemas
Também há dificuldades
Mas pra mim é evidente
Que o machismo presente
Premia a impunidade

Machismo compartilhado
Por gente de toda cor
Do goleiro ao empregado
Do primo ao executor
Autoridades também
Implicitamente têm
Um machismo inspirador

Cada 'doutor' se expressa
Centrado no garanhão
É o mote da conversa:
Fama, grana e traição
Ao se referir a ela
Falam da menina bela
Que fez filme de tesão

Falta a compreensão
Da questão relacional
Gênero, classe, profissão
Cor e status social
O processo é narrativa
Que emerge da saliva
Falocêntrica-legal

E ainda que alguns digam
“Oh, Eliza, coitadinha”
E suas doutrinas sigam
Desvendando pegadinhas
A escola dogmática
Do direito-matemática
Perpetua ladainhas

Processo judicial
Só serve para punir?
Havia tanto sinal...
Não dava pra prevenir?
E a tal ação civil?
Alimentos deferiu?
Para o bebê consumir?

É um momento de dor
Para a família dos dois
O caso é multifator
Não basta dar nome aos bois
A lógica policial
Cartesiana e formal
Festeja tudo depois

Por isso se faz urgente
Conjugar gênero e direito
Pois um trabalho decente
Que surta algum efeito
Não se limita a julgar
Mas também a estudar
O cerne do preconceito

Homens que matam mulheres

Em relações de poder
Isto tem se dado em série
Mas é preciso entender
Que subjaz ao evento
Um histórico comportamento
Que vai construindo o ser

A nossa sociedade
Apesar da evolução
Reproduz iniquidade
E também muita opressão
Homem que bate em mulher
- E “ninguém mete a colher” -
Sempre foi uma 'lição'

Aprendida por goleiros
Delegados, professores
Motoristas, marceneiros
Pedreiros e promotores
Garçons e malabaristas
Médicos e taxistas
Juízes e adestradores

Por isto em nossos dias
De conquistas sociais
De novas filosofias
Direitos especiais
Não podemos aceitar
Justiça só pra apurar
Crimes tão excepcionais

Que a Justiça também
Sirva para (se) educar
Chega deste nhém-nhém-nhém
Deste eterno blá-blá-blá
A Lei Maria da Penha
Existe pra que não tenha
Tanta morte a lamentar!!!


Salete Maria
www.cordelirando.blogspot.com

Bruno, o monstro nosso de cada dia


Artigo de uma querida companheira, que me ensinou muito na vida, no Movimento Estudantil, no PT!

Sempre que ela escreve é esse show!

Espero que gostem.

Valeu Lou!!



Bruno, o monstro nosso de cada dia

Por Louise Caroline

Estamos estarrecidos diante do noticiário nacional cotidiano que, há aproximadamente um mês, apresenta-nos como num enredo novelesco a crueldade do caso Bruno, goleiro do flamengo e sua Eliza (melhor não adjetivar a condição dela na história).

Em todos os canais, programas, horários, com maior ou menor seriedade, a história apresenta seus personagens e já estamos íntimos de Macarrão - do amor eterno, Sérgio - o primo vingativo, o “menor” - drogado assustado, o pai de Eliza - pedófilo estuprador, o ex-PM assassino frio com longa ficha, Bruno – o monstro e suas amantes, namoradas, noivas, a esposa - cúmplice, prostitutas, mansões, orgias e uma infância de abandono e miséria.

Tudo contado com roteiro e produções cinematográficas. Reconstituições em gráfico e com atores, gravações telefônicas, gravações em celular, depoimentos policiais e na Ana Maria Braga, acesso estranhamente “exclusivo” aos autos e a peças, provas do crime.

Vem à mente, de súbito, os casos do menino João Hélio, da pequena Isabella. Histórias que, de tão cruéis, aparentam excepcionalidade. Quem sabe uma manifestação espiritual maligna se acometeu sobre esses monstros? Quem arrastaria um menino? Jogaria a filha pela janela? Mataria para não pagar uma mísera pensão? Jogaria corpos aos cachorros?

Não são excepcionalidades. Nem monstros os autores de tamanha brutalidade. É essa a cultura social vigente. A violência, a banalidade da vida, o estress, o consumismo, o deslumbramento diante do poder.

No caso de Bruno, a reconstituição do que chamamos violência doméstica e sexista. A violência contra a mulher. Tema que cotidianamente produz casos dignos de toda parafernália midiática, como o vídeo da execução ao vivo da cabelereira em Minas Gerais ou mesmo o caso Mizael e Mércia, cujo corpo foi encontrado numa represa e cuja história divide as matérias jornalísticas atuais.

Neste caso, também se configura violência doméstica. Uma história típica de ciúmes e fim de relacionamento, mistura bombástica que diariamente impõe às mulheres, principalmente, uma vida de terror, perseguição, agressões e morte.

Pernambuco ocupa o terceiro lugar no ranking nacional de morte de mulheres. Tem índice 30% superior à média nacional e quase o dobro da média de todo nordeste. Em Caruaru, o Centro de Referência da Mulher “Maria Bonita”, órgão municipal que acolhe mulheres vítimas de violência doméstica e sexista, realizou 430 atendimentos apenas de janeiro a junho deste ano. Já a delegacia da mulher recebeu 588 denúncias no mesmo período!

Cada uma das histórias poderia ser manchete principal dos jornalões brasileiros. Mulheres humilhadas, agredidas, estupradas. Do outro lado, os monstros de cada uma, homens convencidos de seu poder e autoridade perante as mulheres, suas mulheres. O sentimento de posse, a imposição da submissão feminina, a diminuição do valor humano das prostitutas. Elementos que fazem da sociedade brasileira um mau exemplo na constituição da igualdade entre os homens e as mulheres. Uma cultura machista que impõe infelicidade e, às vezes, é lembrada em grandes casos pirotécnicos. Na maioria dos dias, ignorada como parte da vida social.

É revoltante ver que mesmo os avanços legais, como a criação da Lei Maria da Penha, em 2006, são atacados ou por desdém cultural, ou pelo judiciário que de forma aberrante já aplicou a Lei em favor de homens e que, agora, tem uma mulher como algoz. A juíza titular do 3º Juizado de Violência Doméstica do Rio de Janeiro, Ana Paula Delduque Migueis Laviola de Freitas, que recebeu denúncia de Eliza contra Bruno, alegou que “a Lei Maria da Penha não se aplicava ao caso, visto que eles não mantinham relação afetiva estável”.

Ora, sequer é requisito que haja relação afetiva! Que dirá estável! A Lei Maria da Penha veio para proteger as mulheres em relações domésticas e sexistas. A Lei se estende às prostitutas, que mesmo em um único encontro com um homem já estabelecem com ele uma relação sexista. Também abrange as relações já findas, portanto, não estáveis. Pecou pelo rigor legal ou pela cultura social de desprezo às mulheres que se deitam por dinheiro? Aliás, esse foi um elemento utilizado por Bruno, seus comparsas e pela mídia para desqualificar o crime. Como se o direito à vida selecionasse a conduta moral dos cidadãos. Seria um julgamento deveras difícil esse. Não tem direito quem recebe, mas tem direito quem paga?

São simbólicos os casos expostos às nossas vistas pela televisão. Mas são apenas a ponta de um grande iceberg da violência contra a mulher que acontece à nossa volta diariamente. Ou encaramos os fatos com racionalidade e política pública para combater o machismo latente na sociedade brasileira, ou seguiremos elegendo os monstros da vez e condenando-os individualmente até que novos monstros nos façam relembrar.

Louise Caroline

Secretária Especial da Mulher da Prefeitura de Caruaru

Amores inexplicavéis!


E não consigo definir, dimensionar, inútil explicar... são sentimentos maravilhosos, que existem somente para serem vividos, sentidos, explorados!

Samuel Cunha Zocrato (2 anos, 3 meses e 2 dias) é a sensação mais prazerosa da minha vida! Por ele sou capaz de tudo, amor sem limite!

Na quinta-feira, 15 de Julho reencarna a Daniela. Já nasceu me conquistando. Como disse no inicio, Não tem explicação!

Amo meus sobrinhos... os melhores presentes de toda minha vida!

Maravilhoso receber um beijo do Samuel... ensinar alguma coisa pra ele, dar banho, colinho, fazer dormir!

Danizinha, seu choro é a coisa mais gostosa que a titia aqui já ouviu na vida..esse seu miado de gatinha enche meu coração de alegria!

Amo vocês... sem limites!

Tô devendo atualizações por aqui, mas, certa de que serão MAIS constantes agora!