sexta-feira, 7 de janeiro de 2011

MAIS uma indicação da Lou!



Problemas da esquerda

Marcelo Mário de Melo

Os problemas e as soluções que desafiam a esquerda brasileira estão ligados às seguintes esferas: rima, fotografia, mecânica, televisão, geometria, avicultura, sexualidade, fantasmagoria, referências, realismo, culinária, trânsito, jardinagem, estratégia e tática.

Rima – Pedro Álvares Cabral, colônia de Portugal, império nacional – pessoal, regencial, república de marechal, ato adicional, ato institucional, abertura gradual, anistia parcial, eleição colegial, constituinte congressual, presidência imperial, corrupção visceral. É pau. É pau. É pau. Liberal. Liberal.Liberal. É só mudar a rima.

E é preciso ter muito cuidado a cada instante para não rimar nunca, militante, com arrogante.

Fotografia – Quando utilizamos uma câmera fotográfica, girando à esquerda, proporcionamos mais abertura e mais luz e, à direta, o contrário. Se projetos e ações não seguem este parâmetro, algo deve estar errado.

Mecânica - Há aqueles que, muitas vezes, não conseguem fazer a distinção entre o parafuso e o prego, ou entre os momentos de prego e de parafuso. Chegado o momento de torcer, e com cuidado, põem-se a bater. E na hora de bater com decisão, põem-se a torcer. O resultado são roscas estragadas, pregos perdidos e muitos dedos atingidos.Até o dia em que afinal se entenda que em parafuso e em rosca não se bate e que sem pancada não se põe um prego, ainda, quantos dedos amassados?

Televisão – A programação ao vivo deve superar a em circuito fechado. Para que não predominem o cupulismo e os seus subprodutos: comunista cinco estrelas, o social-democrata de cobertura, o liberal de sala vip, o anarquista de salão, o agitador de corredor, o ativista de sala de espera, o cacique jovem guarda, o precandidato a cacique, a liderança de outdor e a transparência com vidro fumê.

Geometria – Quadrado, polígono, triângulo, círculo e elipse enclausuram os passos e a visão. Mas o círculo espiral não é vicioso círculo em torno de si mesmado numa rotação que amarra. Ele circula crescente, roto-translacional, deixando aberta e andante a porta que engole espaços. Ele cresce e é engolido pelos espaços que engole, não havendo nos seus giros a fronteira dentro e fora. Pelo movimento espiral.

Avicultura – Não temos nada e adquirimos uma codorninha. Quanto pior, pior, quanto melhor, melhor. Mas sem conformismo. Não chamar codorninha de galeto. Nem galeto de capão gordo. Nem capão gordo de peru. Nem peru de pavão. E não esquecer que o objetivo é o pavão.

Sexualidade – Liberalismo, neoliberalismo, é masturbação sem gozo. Social-democracia é gozar fora e em pé. Socialismo stalinista é transar sem sarro e, muitas vezes, sobre cama de caco de vidro e areia. Socialismo com cidadania popular, pluralismo e controle civil, é sarro, dança, gozo dentro, conjunto e muitas vezes repetido em boa cama. E radicalidade: vaselina somente para aumentar a profundidade.

Fantasmagoria – Exorcizar o trio tenebroso: mito, dogma, utopia. Mito é a sombra do anão fazendo gigante no muro. Dogma é a ponte avançando antes de o rio nascer. Utopia é a costura seguindo sem a linha na agulha. Abaixo MDU!

Referências - A esperança crítica, mais além de otimismo e pessimismo; a megalomania moderada - grandes projetos com um redutor; o narcisismo com espelho retrovisor, para que todos possam ver a própria cauda. Sem confundir processo histórico com processo histérico, referência com reverência, paradigma com paradogma e sociedade civil com construção civil, à base de premoldados.

Realismo pus e seiva – Apreender o real tal qual viceja ou apodrece, com o reconhecimento trialético dos saltos qualitativos pra a frente e pra trás, quando a quantidade ruim se transforma em qualidade pior, determinando o momento de sair de perto, tampar o nariz ou dar a descarga.

Culinária – Receita, somente de bolo.

Trânsito - Sempre à esquerda, não ultrapasse pela direita.

Jardinagem - Deixa a massa andar na praça. Depois se fazem os canteiros.

Estratégia e tática – Pela militância quadrilateral: contra a fome, o raquitismo, a subnutrição cultural e a corrupção visceral. Por uma militância com poesia, prazer, amizade e humor.

Sobre reuniões - Indicação de Louise Caroline

REUNIÕES/REUNIÕES

Marcelo Mário de Melo

No primeiro ponto da reunião

se estabelece

o cronograma

das reuniões.

No segundo ponto

a competência

das reuniões.

No terceiro ponto

o funcionamento

da reunião.

No quarto ponto

a pauta

da reunião.

No quinto ponto

se faz a síntese

dos tópicos anteriores.

O penúltimo ponto

é para deliberar sobre

a prorrogação da reunião.

No último ponto se discute

se haverá ou não

uma reunião

extraordinária.

quarta-feira, 5 de janeiro de 2011

Motel público para juventude! e Chega de pia de banheiro! Por Ramon Szermeta




Você que é leitor(a) dessa revista, com certeza não deve se achar conservador(a). Você provavelmente se considera de esquerda, votou no Lula nas últimas eleições, deve ser jovem, talvez se considere socialista, em alguns casos até libertário(a), etc, etc… Então pense na seguinte situação: seu pai se separa da sua mãe e lhe dá a notícia que, depois de

muitos anos casado, descobriu que é gay e agora vai viver com outro homem debaixo do mesmo teto, pois é assim que ele é feliz. Você com certeza vai achar normal. Contará para todos seu amigos e tratará o novo amor do seu “velho” normalmente. Não é caro leitor? Você que acha que toda forma de amor vale a pena, que é contra o preconceito e a discriminação vai encarar o fato na boa, não é? Que bom! Pois o exercício acima foi para tocarmos em um assunto pouco habitual, não só nas discussões que nós, da Juventude do PT, fazemos, como num tema que a sociedade pouco explora, ao menos de forma séria, que é a sexualidade da juventude. Nos despirmos de preconceitos e estigmas é o primeiro passo para começarmos a fazer um bom debate.

Não precisamos nos rechear de dados aqui para saber que o jovem inicia sua vida sexual cada vez mais cedo, que o índice de jovens contaminados pelo HIV no mundo é assustador e o drama da gravidez precoce indesejada é uma realidade constante. Antes

de propormos a famosa solução da abstinência sexual, o que tem se mostrado falho, devemos reconhecer o jovem como um sujeito de suas ações, capaz de tomar decisões e encarar suas escolhas. A sociedade deve estar preparada e aceitar o fato dos jovens iniciarem sua vida sexual mais cedo do que deseja sua família, sua escola ou o Estado. Ou seja, deve dar condições para tomar sua decisão de forma consciente.

Antes que se fale da banalização do sexo nos meios de comunicação, (o que não está banalizado?), da pornografia da novela das oito ou do apelo sexual de boa parte das propagandas, devemos ter clareza que ainda não há uma política séria de educação sexual nas escolas. Por incrível que pareça, muitos jovens não tem informações básicas sobre os métodos preventivos e a maioria pouco conhece seu corpo (principalmente as mulheres). A omissão e ineficácia do Estado nessa questão ainda são espantosas e por isso devemos intensificar debates sobre esse tema nos espaços mais variados, propondo e cobrando dos governos ações nesse campo.

Devemos considerar a educação sexual como um elemento de formação do cidadão. Afinal, sua vida sexual mexe com seu lado psicológico, emocional e com sua auto-estima. A preocupação com os jovens que ainda estão iniciando várias experiências na vida deve ser redobrada e devemos formular propostas para o poder público que contribuam para que o jovem tenha uma vida sexual saudável. O que com certeza implica em uma política que envolva áreas da saúde, educação, comunicação e principalmente envolva o jovem na construção dessa política.

OK, talvez você concorde com quase tudo. Mas já parou para pensar em que condições a maioria dos jovens fazem sexo hoje? Talvez escondido em casa enquanto os pais trabalham? E os que têm pais desempregados? No banheiro de uma festa? Atrás do muro da escola? Terrenos baldios, construções abandonadas? Será que essas situações são as mais adequadas para pura e simplesmente desfrutar dos prazeres que se pretende? E para, por exemplo, usar camisinha? Ou então imaginem uma abordagem da nossa tão refinada polícia flagrando dois jovens nessa situação? Pois, por mais que não pareça essa é uma aflição que atinge muito jovens e por ser considerada um problema individual não existem propostas que enfrentem esse problema.

Talvez porque quem mais sinta isso na pele são jovens das camadas mais pobres da população. Sem falar, obviamente, no conservadorismo, na hipocrisia ou no falso moralismo que ainda predominam na nossa sociedade.

Dada essa situação, acredito que devemos começar seriamente a desenvolver uma idéia que pintou em alguns debates, que diz respeito à construção de “Motéis públicos para a Juventude”.

Claro que todo governo terá sempre outras prioridades, muitos não levarão a proposta a sério, a Liga das Senhoras Católicas vai dar chilique, e o seu pai (aquele que eu pedi pra você pensar no início) vai achar um absurdo. Mas cabe a nós, da Juventude do PT, buscar soluções para os mais variados anseios e aflições da juventude brasileira. Não devemos temer propostas polêmicas que busquem encarar o problema de frente. Está lançado o desafio e espero que o enfrentemos, com muito prazer!!!

Ramon Szermeta, Secretário Estadual de Juventude do PT/SP (2001-08)

Marisa Letícia Lula da Silva: as palavras que precisavam ser ditas - Por Hildegard Angel




Foram oito anos de bombardeio intenso, tiroteio de deboches, ofensas de todo jeito, ridicularia, referências mordazes, críticas cruéis, calúnias até. E sem o conforto das contrapartidas. Jamais foi chamada de "a Cara" por ninguém, nem teve a imprensa internacional a lhe tecer elogios, muito menos admiradores políticos e partidários fizeram sua defesa. À "companheira" número 1 da República, muito osso, afagos poucos. Ah, dirão os de sempre, e as mordomias? As facilidades? O vidão? E eu rebaterei: E o fim da privacidade? A imprensa sempre de olho, botando lente de aumento pra encontrar defeito? E as hostilidades públicas? E as desfeitas? E a maneira desrespeitosa com que foi constantemente tratada, sem a menor cerimônia, por grande parte da mídia? Arremedando-a, desfeiteando-a, diminuindo-a? E as frequentes provas de desconfiança, daqui e dali? E - pior de tudo - os boatos infundados e maldosos, com o fim exclusivo e único de desagregar o casal, a família? Ah, meus queridos, Marisa Letícia Lula da Silva precisou ter coragem e estômago para suportar esses oito anos de maledicências e ataques. E ela teve.
Começaram criticando-a por estar sempre ao lado do marido nas solenidades. Como se acompanhar o parceiro não fosse o papel tradicional da mulher mãe de família em nossa sociedade. Depois, implicaram com o silêncio dela, a "mudez", a maneira quieta de ser. Na verdade, uma prova mais do que evidente de sua sabedoria. Falar o quê, quando, todos sabem, primeira-dama não é cargo, não é emprego, não é profissão? Ah, mas tudo que "eles" queriam era ver dona Marisa Letícia se atrapalhar com as palavras para, mais uma vez, com aquela crueldade venenosa que lhes é peculiar, compará-la à antecessora, Ruth Cardoso, com seu colar poderoso de doutorados e mestrados. Agora, me digam, quantas mulheres neste grande e pujante país podem se vangloriar de ter um doutorado? Assim como, por outro lado, não são tantas as mulheres no Brasil que conseguem manter em harmonia uma família discreta e reservada, como tem Marisa Letícia. E não são também em grande número aquelas que contam, durante e depois de tantos anos de casamento, com o respeito implícito e explícito do marido, as boas ausências sempre feitas por Luís Inácio Lula da Silva a ela, o carinho frequentemente manifestado por ele. E isso não é um mérito? Não é um exemplo bom?
Passemos agora às desfeitas ao que, no entanto, eu considero o mérito mais relevante de nossa ex-primeira-dama: a brasilidade. Foi um apedrejamento sem trégua, quando Marisa Letícia, ao lado do marido presidente, decidiu abrir a Granja do Torto para as festas juninas. A mais singela de nossas festas populares, aquela com Brasil nas veias, celebrando os santos de nossas preferências, nossa culinária, os jogos e brincadeiras. Prestigiando o povo brasileiro no que tem de melhor: a simplicidade sábia dos Jecas Tatus, a convivência fraterna, o riso solto, a ingenuidade bonita da vida rural. Fizeram chacota por Lula colar bandeirinhas com dona Marisa, como se a cumplicidade do casal lhes causasse desconforto. Imprensa colonizada e tola, metida a chique. Fazem lembrar "emergentes" metidos a sebo que jamais poderiam entender a beleza de um pau de sebo "arrodeado" de fitinhas coloridas. Jornalistas mais criteriosos saberiam que a devoção de Marisa pelo Santo Antônio, levado pelo presidente em estandarte nas procissões, não é aprendida, nem inventada. É legitimidade pura. Filha de um Antônio (Antônio João Casa), de família de agricultores italianos imigrantes, lombardos lá de Bérgamo, Marisa até os cinco de idade viveu num sítio com os dez irmãos, onde o avô paterno, Giovanni Casa, devotíssimo, construiu uma capela de Santo Antônio. Até hoje ela existe, está lá pra quem quiser conferir, no bairro que leva o nome da família de Marisa, Bairro dos Casa, onde antes foi o sítio de suas raízes, na periferia de São Bernardo do Campo. Os Casa, de Marisa Letícia, meus amores, foram tão imigrantes quanto os Matarazzo e outros tantos, que ajudaram a construir o Brasil.
Outro traço brasileiro dela, que acho lindo, é o prestígio às cores nacionais, sempre reverenciadas em suas roupas no Dia da Pátria. Obras de costureiros nossos, nomes brasileiros, sem os abstracionismos fashion de quem gosta de copiar a moda estrangeira. Eram os coletes de crochê, os bordados artesanais, as rendas nossas de cada dia. Isso sim é ser chique, o resto é conversa fiada. No poder, ao lado do marido, ela claramente se empenhou em fazer bonito nas viagens, nas visitas oficiais, nas cerimônias protocolares. Qualquer olhar atento percebe que, a partir do momento em que se vestir bem passou a ser uma preocupação, Marisa Letícia evoluiu a cada dia, refinou-se, depurou o gosto, dando um olé geral em sua última aparição como primeira-dama do Brasil, na cerimônia de sábado passado, no Palácio do Planalto, quando, desculpem-me as demais, era seguramente a presença feminina mais elegante. Evoluiu no corte do cabelo, no penteado, na maquiagem e, até, nos tão criticados reparos estéticos, que a fizeram mais jovem e bonita. Atire a primeira pedra a mulher que, em posição de grande visibilidade, não fez uma plástica, não deu uma puxadinha leve, não aplicou uma injeçãozinha básica de botox, mesmo que light, ou não recorreu aos cremes noturnos. Ora essa, façam-me o favor!
Cobraram de Marisa Letícia um "trabalho social nacional", um projeto amplo nos moldes do Comunidade Solidária de Ruth Cardoso. Pura malícia de quem queria vê-la cair na armadilha e se enrascar numa das mais difíceis, delicadas e técnicas esferas de atuação: a área social. Inteligente, Marisa Letícia dedicou-se ao que ela sempre melhor soube fazer: ser esteio do marido, ser seu regaço, seu sossego. Escutá-lo e, se necessário, opinar. Transmitir-lhe confiança e firmeza. E isso, segundo declarações dadas por ele, ela sempre fez. Foi quem saiu às ruas em passeata, mobilizando centenas de mulheres, quando os maridos delas, sindicalistas, estavam na prisão. Foi quem costurou a primeira bandeira do PT. E, corajosa, arriscou a pele, franqueando sua casa às reuniões dos metalúrgicos, quando a ditadura proibiu os sindicatos. Foi companheira, foi amiga e leal ao marido o tempo todo. Foi amável e cordial com todos que dela se aproximaram. Não há um único relato de episódio de arrogância ou desfeita feita por ela a alguém, como primeira-dama do país. A dona de casa que cuida do jardim, planta horta, se preocupa com a dieta do maridão e protege a família formou e forma, com Lula, um verdadeiro casal. Daqueles que, infelizmente, cada vez mais escasseiam.
Este é o meu reconhecimento ao papel muito bem desempenhado por Marisa Letícia Lula da Silva nesses oito anos. Tivesse dito tudo isso antes, eu seria chamada de bajuladora. Esperei-a deixar o poder para lhe fazer a Justiça que merece.